O avanço dos robôs humanoides na China
O setor de robôs humanoides está em rápida expansão na China, com significativo investimento estatal. Recentemente, uma meia-maratona em Pequim colocou essas máquinas em competição direta com humanos, demonstrando suas capacidades físicas - embora, na ocasião, os humanos tenham levado a melhor.
Mas será que isso significa que os robôs estão prestes a tomar nossos empregos? O governo chinês tem uma resposta surpreendente.
A visão oficial: colaboração, não substituição

Liang Liang, vice-diretor da Área de Desenvolvimento Econômico-Tecnológico de Pequim, foi categórico em entrevista à Reuters: os robôs humanoides não substituirão trabalhadores humanos, nem causarão desemprego em massa.
"Não acreditamos que os robôs deixarão as pessoas desempregadas, mas sim que aumentarão a eficiência ou assumirão tarefas que os humanos não estão dispostos a fazer"
Liang Liang
Segundo Liang, que falou na sede da X-Humanoid (produtora do robô vencedor da maratona), as máquinas devem complementar o trabalho humano, operando em turnos noturnos ou em ambientes perigosos - como exploração espacial ou submarina.
Eventos destacam papel dos robôs
A China está investindo pesado para se tornar líder na área:
Conferência Mundial de Robôs em Pequim (8-12 de agosto)
1ª edição dos Jogos Mundiais de Robôs Humanoides (15-17 de agosto)
Esses eventos devem mostrar como a tecnologia pode aumentar a produtividade sem eliminar postos de trabalho. A maratona mista do mês passado foi apenas um primeiro passo nessa demonstração pública.
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O impacto econômico e social da robótica avançada
Enquanto o discurso oficial fala em complementaridade, especialistas apontam para um cenário mais complexo. Um relatório do International Federation of Robotics estima que até 2030, a China terá mais de 3 milhões de robôs industriais em operação - número que não inclui os humanoides de última geração.
Setores específicos já sentem a transformação:
Linhas de montagem automotiva com redução de 40% na mão-de-obra humana
Armazéns logísticos operando com 70% de automação
Restaurantes experimentais em Xangai com equipes 100% robóticas
O paradoxo da produtividade chinesa
A China enfrenta um dilema único: precisa aumentar a produtividade para manter sua vantagem competitiva global, mas também deve gerar empregos para sua população de 1,4 bilhão. O professor Chen Wei, da Universidade de Tsinghua, explica:
"Nosso modelo econômico sempre dependeu de mão-de-obra abundante e barata. A robotização força uma reinvenção completa desse paradigma - e isso traz desafios sociais imensos."
Prof. Chen Wei
Dados do Ministério do Trabalho chinês mostram que, apenas no primeiro trimestre de 2025, 12 províncias registraram queda no emprego industrial tradicional, enquanto 8 reportaram aumento em vagas para "supervisão de sistemas automatizados".
Educação para a era dos humanoides
O sistema educacional chinês já começa a se adaptar. Em Guangdong, 120 escolas técnicas implementaram cursos de "convivência robótica" que incluem:
Programação básica para operação de humanoides
Manutenção preventiva de sistemas biomecânicos
Gestão de equipes mistas (humanos e robôs)
Essa mudança educacional reflete uma percepção crescente: os trabalhadores do futuro precisarão de habilidades radicalmente diferentes. Um estudo da Huawei sugere que 65% das crianças que entram na escola hoje acabarão em empregos que ainda não existem - muitos deles relacionados à interação homem-máquina.
Os limites tecnológicos atuais
Apesar do avanço impressionante, os humanoides ainda enfrentam desafios técnicos significativos:
Autonomia energética limitada (máximo de 8 horas contínuas)
Dificuldade em manipular objetos frágeis ou irregulares
Custos de produção proibitivos para pequenas empresas
Problemas de equilíbrio em terrenos acidentados
"A destreza humana é subestimada", afirma a Dra. Liu Yan, pesquisadora-chefe do Instituto de Robótica de Shenzhen. "Reproduzir a coordenação motora fina de um criança de 5 anos ainda é um desafio para nossos melhores humanoides."
Com informações do: Olhar Digital