O impacto das restrições de exportação no mercado chinês

Jensen Huang, CEO da NVIDIA, não poupou críticas às políticas de controle de exportação implementadas durante o governo Biden. Em entrevista coletiva na Computex 2025, Huang revelou dados impactantes: a participação de mercado da NVIDIA na China caiu de impressionantes 95% para apenas 50% nos últimos quatro anos.

Jensen Huang durante entrevista na Computex 2025

Mas o que realmente chama atenção é a análise do executivo sobre os resultados dessas medidas. As restrições não apenas falharam em conter o avanço tecnológico chinês, como acabaram impulsionando o desenvolvimento de concorrentes locais. "Deixamos uma grande receita, e nada mudou", resumiu Huang, em tom de frustração.

Os números por trás do prejuízo

A NVIDIA sofreu perdas bilionárias com as proibições ao chip H20, um golpe tão significativo que Huang comparou: "O prejuízo do H20 é tão grande quanto o de muitas empresas de semicondutores". Em uma analogia reveladora sobre eficiência, o CEO explicou:

"Se uma fábrica custa US$ 10 bilhões e a eficiência é de 30%, tem-se que '30% de US$ 10 bilhões são US$ 3 bilhões'. Nossa eficiência é de 90%".

Jensen Huang, CEO da NVIDIA

O mercado chinês representa um desafio complexo para a NVIDIA. Com 50% dos pesquisadores globais de IA e sendo o segundo maior mercado de computadores do mundo, a China está projetada para valer US$ 50 bilhões no próximo ano. Uma oportunidade que a NVIDIA vê escorrer entre os dedos devido às restrições.

A estratégia de diversificação e o futuro

Enquanto navega pelas turbulentas águas geopolíticas, a NVIDIA anunciou o NVLink Fusion, uma tecnologia que permite comunicação direta entre CPUs de terceiros e GPUs NVIDIA. Segundo Huang, essa inovação posiciona a rede da NVIDIA como o "sistema operacional do data center".

Demonstração do NVLink Fusion

O CEO também destacou investimentos em Taiwan e a visão de longo prazo: "Estamos investindo centenas de bilhões em uma infraestrutura de IA de dezenas de trilhões que levará cinco décadas". Um projeto ambicioso que pretende espalhar fábricas de IA pelo mundo como a internet se expandiu globalmente.

Curiosamente, Huang revelou que a OpenAI foi a primeira - e inicialmente única - cliente do DGX-1 em 2016: "Eles não tinham dinheiro, então eu o dei a eles". Hoje, com desenvolvedores de IA em todo o mundo, a NVIDIA está lançando versões menores como o DGX Spark e DGX Station.

Robótica: a próxima fronteira

Questionado sobre o futuro, Huang foi categórico: "A robótica será a próxima revolução industrial". O CEO acredita especialmente em robôs humanoides, pois "é o único robô que podemos imaginar usando em muitos lugares, porque estamos em muitos lugares".

Demonstração de robótica com IA

Enquanto isso, a NVIDIA continua sua transformação de empresa de hardware para provedora de infraestrutura de IA completa. "O software que roda na infraestrutura é muito diferente do que roda em um PC", explicou Huang, destacando a necessidade de repensar desde a energia até a segurança em sistemas em escala.

O paradoxo das sanções: fortalecendo os concorrentes

As declarações de Huang revelam um paradoxo pouco discutido: as restrições americanas podem estar acelerando a independência tecnológica chinesa. Empresas como a Huawei já demonstraram capacidade de desenvolver GPUs competitivas, como o Ascend 910B, que segundo relatórios do mercado chinês, já alcança 80% do desempenho dos modelos equivalentes da NVIDIA.

"Quando você tira o tapete de um mercado acostumado a tecnologia de ponta, ele encontra maneiras de se reinventar", observou um analista anônimo do setor. Dados recentes mostram que o investimento chinês em semicondutores cresceu 42% no último ano, com foco específico em aceleradores de IA.

A corrida pela soberania tecnológica

Enquanto a NVIDIA busca contornar as restrições com produtos "diluídos" para o mercado chinês, como a série H20, Huang admitiu que a empresa está perdendo terreno em um dos mercados mais dinâmicos do mundo. "Nossos engenheiros passam mais tempo recriando produtos para atender regulamentações do que inovando", confessou durante um momento não transmitido da coletiva.

"A China não está apenas copiando tecnologia - está reescrevendo as regras do jogo. Eles saltaram etapas que nos levaram décadas para percorrer." Executivo anônimo da indústria de semicondutores

O cenário atual lembra a crise dos chips de 2021, mas com um agravante: desta vez, a escassez é política, não logística. Fabricantes chineses estão adotando uma estratégia agressiva de "desamericanização" de suas cadeias de suprimentos, com metas ambiciosas de substituição de componentes.

O dilema da inovação regulada

Huang destacou um ponto crucial que muitas análises ignoram: a regulamentação excessiva pode sufocar a inovação justamente quando ela é mais necessária. "Estamos em uma corrida global por inteligência artificial, mas metade dos competidores estão correndo com as mãos amarradas", comparou.

Os números são reveladores: enquanto a NVIDIA vê seu mercado chinês encolher, empresas locais como a Biren Technology e a MetaX já captaram investimentos bilionários. O ecossistema de startups de IA na China cresceu 67% desde as primeiras sanções, segundo relatório do governo chinês.

A geopolítica dos chips

O conflito tecnológico entre EUA e China está criando ondas de choque em toda a indústria. Huang revelou que a NVIDIA já mantém equipes jurídicas dedicadas exclusivamente a navegar no labirinto regulatório global. "Cada país quer proteger seus interesses, mas no processo, estão fragmentando a internet do futuro", lamentou.

Um exemplo concreto: a versão "exportável" do chip H20 tem desempenho artificialmente limitado para cumprir regulamentações, mas engenheiros descobriram que clusters desses chips podem superar as restrições quando usados em conjunto, criando um mercado paralelo de "supercomputadores frankenstein".

Enquanto isso, a indústria observa atentamente o desenvolvimento do processador Loongson 3A6000, totalmente desenvolvido na China e que promete performance comparável a chips ocidentais de última geração. "É questão de tempo até que a dependência tecnológica se torne história", prevê um editorial do Global Times.

Com informações do: Adrenaline