Um projeto ousado no cenário do Rio de Janeiro

A ideia para Gambiarra: Uga Uga Show nasceu de uma visita inusitada do diretor Gustavo Colombo a uma galeria de produtos tecnológicos no centro do Rio. O local, com sua atmosfera peculiar e quase distópica, lembrava aqueles cenários de filmes cyberpunk que normalmente vemos ambientados em metrópoles asiáticas ou norte-americanas.

Mas por que não no Brasil? Colombo percebeu que tinha nas mãos a oportunidade de criar algo único - um cyberpunk genuinamente brasileiro, com toda a estética caótica e criativa que só o Rio poderia oferecer. O projeto, que inicialmente parecia uma ideia improvável, acabou se tornando realidade com Diogo Defante no papel principal.

Os desafios de produzir um cyberpunk brasileiro

Produzir um filme do gênero no Brasil não é tarefa simples. O cyberpunk tradicionalmente demanda:

  • Efeitos visuais complexos

  • Cenários futuristas

  • Tecnologia de ponta

  • Orçamentos elevados

Como então uma produção nacional conseguiu superar essas barreiras? A resposta parece estar na criatividade e no espírito de "gambiarra" que dá nome ao filme. A equipe encontrou maneiras inteligentes de usar locações reais do Rio, transformando-as em cenários futuristas através de ângulos criativos e efeitos visuais estratégicos.

O centro da cidade, com sua arquitetura diversa e atmosfera intensa, provou ser o palpite perfeito. Quem já caminhou pelas ruas do Rio à noite, com aquela mistura de luzes neon, comércio eletrônico e movimento constante, pode imaginar como o local se presta naturalmente a uma estética cyberpunk.

A estética única do cyberpunk carioca

O que diferencia Gambiarra de outros filmes do gênero é justamente sua abordagem brasileira do futurismo. Enquanto produções estrangeiras mostram cidades limpas e tecnologicamente avançadas, o longa explora um futuro onde a tecnologia convive com a precariedade típica das grandes cidades brasileiras. Cabos expostos, fios pendurados e aparelhos improvisados tornam-se parte da linguagem visual.

O diretor Gustavo Colombo explica: "Nossa inspiração veio das ruas mesmo. O Rio já é cyberpunk à sua maneira - você tem barracas de camelô vendendo chips de celular ao lado de prédios modernos, crianças jogando videogame em barracos, aquele contraste que só existe aqui". Essa visão resultou em um visual que mistura o high-tech com o low-life de forma orgânica, sem parecer forçado.

O elenco e a construção dos personagens

Diogo Defante, conhecido por seu humor ácido e personagens excêntricos, traz para o protagonista uma energia que combina perfeitamente com o tom do filme. Seu personagem, um "tecnopata" que conserta aparelhos eletrônicos com métodos pouco ortodoxos, parece saído diretamente das ruas do Rio. A atriz Bianca Byington completa o elenco principal como uma executiva de megacorporação, criando um interessante contraste de classes dentro da narrativa.

O processo de construção dos personagens foi colaborativo, com os atores trazendo suas próprias experiências de vida na cidade. "Muitas das falas e maneirismos vieram de observações reais que fizemos nas ruas", revela Defante. "Tem um jeito carioca de lidar com a tecnologia que é único - aquele improviso, a malandragem de fazer coisas funcionarem contra todas as probabilidades."

Tecnologia e improvisação: a alma do projeto

Por trás das câmeras, a equipe enfrentou desafios técnicos que espelham o tema do filme. Sem acesso a equipamentos de última geração, os cineastas recorreram a soluções criativas:

  • Usaram drones de consumo para tomadas aéreas

  • Improvisaram efeitos de iluminação com materiais simples

  • Criaram figurinos futuristas a partir de peças encontradas em brechós

  • Transformaram eletrônicos comuns em dispositivos futuristas com modificações simples

Essa abordagem acabou se tornando uma vantagem criativa. O visual "faça-você-mesmo" do filme traz uma autenticidade que produções com orçamentos maiores muitas vezes não conseguem alcançar. Como observa o diretor de fotografia, "as imperfeições tornam tudo mais real - nosso futuro não vai ser limpo e perfeito como em Hollywood, vai ser cheio de gambiarras, como sempre foi no Brasil".

A trilha sonora, composta por artistas experimentais da cena eletrônica brasileira, completa a atmosfera. Misturando batidas digitais com samples de sons urbanos do Rio - desde o barulho do trem até o grito dos vendedores ambulantes - a música cria uma ponte entre o presente e o futuro imaginado pelo filme.

Com informações do: IGN Brasil